Por que ninguém tem permissão para explorar a Antártica?
- Julia Marreto Silva
- 26 de jan. de 2021
- 5 min de leitura
Sinopse: A Antártica é uma das regiões mais misteriosas do mundo. Ninguém sabe realmente o que acontece durante os seis meses de total escuridão do inverno antártico. Apesar disso, já se sabe que se trata de uma região de fauna marítima abundante e de extrema importância para o futuro do planeta, consequentemente da humanidade. Mas, afinal, por que ninguém tem permissão para explorar a Antártica?
Antártida – o continente gelado
Olhar o mapa-múndi e ver uma espessa camada de gelo, representada nos polos da Terra, chega a gelar até o coração! Muito se sabe, estuda e se pesquisa sobre o Polo Norte, lar de animais nem tão conhecidos, como a raposa do ártico, a baleia branca, o lobo-marinho-antártico e a andorinha-do-mar-ártica.
Animais que possuem evolução genética forte o suficiente para aguentar o bioma extremamente frio e, frequentemente, com neve. O Ártico está repleto de formas de vida, que vão, desde os zooplânctons microscópicos a enormes baleias. Além disso, a terra ao redor do Polo Norte, também chamada de tundra, possui vida animal altamente adaptada às condições extremas da região.
Certo, mas o que isso tem a ver com a Antártica?
Espera, é Antártica ou Antártida? As duas formas de escrever a palavra estão corretas! A única diferença é que uma é mais comum no Brasil, enquanto a outra é mais comum em Portugal.
E por falar em nomes, a Antártica também pode ser chamada de Anti-Ártica ou Anti-Ártico. Levando em consideração que é exatamente o lado oposto do Ártico (Polo Norte). Enquanto Antártida tem origem na palavra Atlântida, como era chamado o continente perdido da mitologia grega.
Pois bem, vamos à história: o ponto em que a superfície da Terra cruza com seu eixo de rotação é considerado o Polo Sul Geográfico – mais conhecido apenas como Polo Sul.
A Antártica é o continente mais frio do mundo. Ela fica congelada praticamente por inteiro, durante o ano todo. Apesar de possuir água do mar e água congelada em toda sua superfície, a Antártica é considerada um continente deserto.
Mas, assim como o Polo Norte abriga uma imensa variedade de espécies. Como as mais diversas espécies de Pinguins – seus animais símbolo. Outros animais originários da Antártica são: alguns artrópodes; focas; baleias; polvos gigantes; peixes, krills e outros animais marinhos.
Por que então a Antártica não é dividida em países?
Ao contrário da população animal irracional, a Antártica não possui uma população fixa de seres humanos. Já dá até pra imaginar o porquê, né? Boa parte das pessoas, que vivem na região, são cientistas que revezam sua estadia com colegas.
O principal problema de povoamento da região é resultado da posição em latitudes extremas. Situação que faz com que aconteçam dois fenômenos incríveis: o inverno antártico [que é quando o continente fica de noite e extremamente frio durante seis meses]. E o verão antártico [quando o continente fica totalmente de dia e com um clima menos severo, durante os outros seis meses do ano].
Além do frio extremo, desértico e perigoso, dá para imaginar que ninguém queira passar seis meses em total escuridão, ainda mais em um lugar desses.
Outro ponto; que dificulta a povoação do continente, é que não existem fronteiras políticas, nem países. Apesar de existirem áreas que são, sim, responsabilidade de alguns países.
Essa regionalização foi criada com base em critérios físicos, dividindo a Antártica em Antártica Ocidental [a menor] e a Antártica Oriental [maior e mais resistente ao derretimento das calotas polares].
Assim como todo o mundo sofre com problemas climáticos, a Antártica não estaria de fora. Principalmente a região ocidental. A poluição atmosférica é a principal causa do aquecimento global e do buraco na camada de ozônio.
Fatores responsáveis pelo derretimento das calotas polares. Que, por sua vez, aumentam o nível das águas do mar e refletem em grandes problemas em outros continentes, especialmente na Oceania. Causando uma verdadeira avalanche de transtornos.
Então, para poder estudar os problemas ambientais, e tantas outras coisas relacionadas ao continente menos populoso do mundo, diversos países entrarem em consenso e assinaram o Tratado da Antártica. Nesse documento, concluíram que o continente permaneceria intacto, para fins pacíficos de pesquisa.
Por isso, tantos países possuem bases científicas no Polo Sul, incluindo o Brasil, com a Estação Comandante Ferraz.
O Tratado da Antártica
O continente antártico representa, mais ou menos, 10% da superfície do planeta. Não é à toa que as mudanças no clima do continente e do Oceano Antártico podem afetar tanto o resto do planeta.
E, mesmo sendo o continente mais frio, mais alto e ventoso do planeta, também sabemos que é uma região rica em recursos marinhos e terrestres. A exemplo de diamantes, ouro e petróleo, além de contar com uma abundância em animais marinhos. Como as baleias, que foram muito caçadas entre os séculos dezenove e vinte.
A Antártica é uma região extrema e remota, tanto que nem o famoso explorador, James Cook, conseguiu chegar ao continente, em nenhuma de suas duas tentativas no século dezoito.
Com o passar das décadas, as expedições, em busca do “continente inalcançável”, se tornaram cada vez mais intensas. Especialmente a partir do século dezenove.
Já no início do século vinte, exploradores como Admundsen, Scott, Dawson e Shackleton tiveram papéis importantes para aumentar a visibilidade desse continente.
Mas foi com o fim da Segunda Guerra Mundial, que as tensões sobre a região aumentaram. E para resolver esse – entre tantos outros – problema, as maiores potências mundiais decidiram que o continente deveria ser “de todo mundo”.
Assim, criou-se esse Tratado da Antártica, que foi inicialmente redigido em 1959. Ali, está escrito que o continente antártico deverá ser um local exclusivo para a Ciência e para a Paz. Sem intervenções militares. Fazendo com que essa seja uma região para toda a Humanidade.
A partir desse tratado, começaram as importantes medidas ambientais, como as convenções sobre proteção da fauna e flora locais; o estabelecimento de uma comissão para a preservação dos recursos marinhos vivos [também chamada CCAMLR] e, mais recentemente, da Comissão para a Proteção Ambiental [ou CEP].
E, ao contrário do que pode parecer, os eventos relacionados à Antártica são muito mais frequentes do que se imagina. As reuniões do Tratado da Antártica acontecem todos os anos.
Durante essas reuniões, são reavaliados todos os pontos associados ao tratado. O principal objetivo dessas reuniões é reafirmar a dedicação e o compromisso dos países envolvidos na preservação da Antártica, como reserva natural e sua importância na cooperação internacional.
Geralmente, os assuntos, que são discutidos durante essas reuniões, focam nas consequências que podem ser causadas, em todo o mundo, causadas pelas alterações climáticas na região. Além de promover a investigação científica e consolidar a cultura das colaborações internacionais.
O Brasil assinou o Tratado da Antártica no dia 16 de maio de 1975, pelo então presidente, Ernesto Geisel.
[Editor colocar na tela: Decreto Nº 75.963, de 11 de julho de 1975]
Reconhecendo se de interesse de toda a humanidade que a Antártida continue para sempre a ser utilizada exclusivamente para fins pacíficos e não se converta em cenário ou objeto de discórdias internacionais;
Reconhecendo as importantes contribuições dos conhecimentos científicos dos conhecimentos científicos logrados através da colaboração internacional na pesquisa científica realizada na Antártida [...].
Por que afinal, ninguém tem permissão para explorar a Antártica?
Como vimos ao longo de todo o vídeo, a Antártica é uma região isolada. Que só pode ser estudada por um período de seis meses a cada ano, durante o verão antártico. Já que, na outra metade do ano, a região fica em completa escuridão e extremamente mais fria.
E, apesar de ser uma localidade, relativamente, pouco conhecida, agora já sabemos que existe uma grande possibilidade de ser rica em pedras preciosas e petróleo. Assim como é com sua fauna marítima.
Mas, mais importante que isso, a Antártica é um lugar protegido, onde ninguém pode explorar seus recursos naturais, por causa do acordo criado em 1959 e assinado por diversos países ao longo da história da humanidade, até os dias de hoje. Isso quer dizer que, se existe um lugar no mundo, onde a paz é obrigatória, ele se chama Antártica.
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